Instituto Caruanas

A Pajé Educadora

A Pajé Educadora

A vida da Pajé cabocla Zeneida Lima tem o dom do desconhecido, do vasto caminho do místico e mágico. Desde muito nova, ainda no berço, sua caminhada foi marcada por fatos incomuns. Na infância soube por um Pajé que pertencia à linha do fundo. Havia nascido com o dom da cura e teria de seguir seu destino, guiada pelos Caruanas, pelas forças da natureza.

Aos onze anos de idade, Zeneida Lima começou o aprendizado sobre os mistérios dos Pajés, das cerimônias, das curas. Iniciou sua preparação para conhecer o chamado Mundo Encantado, para tornar-se oficiante do culto aos Caruanas, energias das águas, que segundo Manuel Nunes Pereira, o renomado antropólogo, constituem uma impressionante manifestação das forças vivas da natureza.
Zeneida Lima nasceu no município de Soure, na Ilha do Marajó, em 21 de julho de 1934. foi a terceira de uma família de 12 filhos. O pai, Angelino Rodrigues de Lima, além de político importante na cidade de Belém nos anos de 30 e 40, foi um dos mais bem conceituados advogados criminalistas da época, articulado com amigos influentes como Magalhães Barata e Justo Chermont. A mãe, Maria José de Andrade Figueira de Lima, foi a grande companheira de Zeneida. Mulher simples e de muita fé, foi a segunda esposa de Angelino.

Criada livre nos campos de Soure, onde o pai possuía a fazenda Independência, a infância de Zeneida, desde a gestação, foi marcada também por fatos misteriosos e surpreendentes. Soube, no início da adolescência, que havia nascido com dom da cura e que pertencia à linha do fundo, conforme lhe revelou um pajé. Todos esses acontecimentos são narrados em seu primeiro livro. O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó.

Entre os fatos narrados por Zeneida, ocorridos nessa época, está seu desaparecimento na ilha. Durante 17 dias, ainda menina, viu-se raptada por seres encantados de pele azul. Após ter sido encontrada enrolada em cipó, Zeneida e a mãe encaminharam-se para Maruacá, em Salvaterra, cidade vizinha a Soure, onde Zeneida aprendeu com o Pajé Mestre Mundico os mistérios dos Caruanas. A preparação durou um ano e 17 dias e, após esse período, Zeneida tornou-se também uma Pajé.

A partir daí, Zeneida passou a exercer o dom da cura com que havia nascido.
Deu seguimento à sua missão, realizando Pajelanças e ajudando pessoas na solução de males físicos e espirituais sem, contudo, cobrar ou exigir pagamento ou ainda buscar adeptos, o que é proibido pelos ensinamentos do culto aos encantados.

Aos 17 anos, já casada, Zeneida mudou-se com a mãe e os irmãos para o Rio de Janeiro. De volta ao Pará, após ter passado 27 anos no Rio, ela deu seguimento a uma série de projetos.

Reencontrou uma Pajelança praticada no Marajó, passando por um gradual processo de assimilação de outras práticas e crenças. Temendo o desaparecimento dessas ricas manifestações, ela resolveu deixar como um legado para as futuras gerações um registro. Nasceu assim o livro O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó, que terá uma sétima edição e em breve uma segunda parte. Nessa primeira obra, Zeneida narra todo seu aprendizado da Pajelança Cabocla e sua trajetória de vida, bem com aborda práticas desempenhadas pelos Pajés até então nunca reveladas.
O livro foi adaptado pela Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, campeã do Carnaval de 1998 com o enredo Pará o Mundo Místico dos Caruanas nas Águas do Patu-Anu.
A grande repercussão alcançada pelo primeiro volume fez com que a ele se seguissem outras publicações de autoria da Pajé: O Recado do Papagaio de histórias infantis; Lendas da Amazônia de pequenos contos; e o livro de poesias A Estranha. (Ver publicações).